Afinal, quem ganhou fui eu.

 Dou por mim no meio da confusão. Sem saber, ao certo, como aqui cheguei. Habituada a percorrer este caminho de mãos unidas que o tempo, com toda a sua crueldade, fez questão de separar. Talvez o habito me levasse a decorar este percurso, talvez este lugar se tenha tornado mágico por coisas tão simbólicas, que quando lembradas deixam um traço de saudade. Lembro-me do teu abraço, do brilho de saudade que transportavas no olhar, mesmo antes de eu partir.

 O percurso tornava-se amargo à medida que me distânciava de ti, ou melhor, do local onde habitas, agora, parece ter os efeitos contrarios. O comboio está cheio, talvez pela hora, já só tenho lugar em pé, pelo menos o lugar que me destinaram fica junto à janela. Lembro-me perfeitamente das viagens e quilómetros que percorri durante meses, agora vejo que passaram muito rápido, meses esses que julguei serem infinitos, tornaram-se agora finitos. Lembro-me de toda a paisagem que se avista do comboio, sei cada paragem e todo o horário.

 Nesta viagem trouxe como acompanhante a voz de ''tracy chapman''. Sei que esta nunca me abandonará e que sempre que eu quiser me irá cantar excertos de amor ao ouvido. Irá encher-me a alma e os olhos de lágrimas, apenas porque o meu maior desejo foi algo que nunca concretizas-te, no entanto fizeste de mim a rapariga mais feliz do mundo. A música faz-me lembrar cada noite que passamos perto um do outro, cada vontade de te agarrar, cada berro que soltei e cada beijo que te dei.
A música recorda-me do jeito que és, cada traço da tua personalidade. Afinal, todo tu és música. 

No fundo, faz-me lembrar todas as guerras que tivemos a decidir quem amava mais quem.

Agora com saudade sei que fui eu quem ganhou.