Dia de chuva é sempre dia de lágrimas. Dia de angustia, dia de ficar por casa e divagar pelo interior. 

 Dia de revirar o quarto, este pequeno espaço que em tempos partilhamos. Abrir a ferida por uns momentos. Nunca pensei que doe-se tanto ver tudo aquilo à minha frente e por isso mesmo fui buscar uma caixa. Uma caixa, castanha, sinistra e perdida, tal como o nosso amor. 

 Em movimentos lentos e delicados peguei na primeira recordação. Um ramo de flores, peguei com jeito, apesar de doer ele era importante, faz parte de uma história do meu diário que agora se encontra trancado com a chave que nem eu própria encontro no meu coração. A segunda é um t-shirt cujo no fundo de um imagem diz ''uns amam o poder, outros têm o poder de amar.'', lembro-me da minha felicidade quando me entregas-te a t-shirt, o quanto te abracei e os quantos beijos intermináveis te dei, o significado dela era interminável.

 Fiz o mesmo com tudo o resto que te pertencia, faltando bastantes coisas que, com o tempo habituei-me a vê-las como minhas. Deixei apenas as tuas sapatilhas no mesmo sitio de sempre, continuam à cabeceira da cama, apenas porque era mais fácil quando estava lá o telemóvel e me ligavas, deixei também as duas únicas pulseira que ainda permanecem no meu pulso esquerdo, um é roxa, em forma de tótó com letras no fundo «paixão» cujas se foram desgastando com o tempo e agora desapareceram. Deixo também aquela colorida que tu, com as tuas próprias mãos fizeste, lamentavelmente, essa também esta desgastada e por isso quase sem cor. Não tem mal, de facto tudo o que nós tivemos encontra-se a preto e branco. É desse jeito que quero que tudo o resto fique, sem cor, sem vida. Sem dor.